segunda-feira, 12 de julho de 2010

Vendo a mim mesmo.



Vendo a mim mesmo. Ouvindo Rock. Cheirando a mofo. Comendo pizza. Batendo palma.
Eu poderia estar matando (o tempo), poderia estar roubando (beijos), poderia ainda estar assassinando a Gramática ou usando o gerúndio de outras formas sofríveis, sofrendo ouvindo Wando, etc. Mas estou aqui, "escrevendo" palavras, sem slogans, vitrines ou auto-falantes. Desclassificado. Único dono, sempre novo, completo... Quantas portas quiserem: a percepção está sempre aberta. Kit Quer, Kit Fala, Kit Ama. Que te importa? Combustível-Motivação.
Aceita-se troca (de ideias). Não se tem preço. Deixe o que quiser, fica a seu critério. Qualquer "olá" é bem recebido. Passo o chapéu ao final do texto. Dou-lhe uma, dou-lhe duas, dou-lhe três... Volte outra vez! Ame-me ou deixe-me... Quem dá mais? Pegue e leve!
Está instalada desde as trocas, desde as putas, desde os Feudos, desde as rifas, Capitanias, Mercantilistas, a comercialização do todo, de tudo, de si. Os governos dos países vendidos adequaram-se então à nova ordem: A vacina BCG será substituída por etiquetas acopladas ao pescoço dos bebês, batizada agora de PMG. Na ciência, o DNA dará lugar ao código de barras. Cartilhas virão em forma de outdoors, editoras terão como Best Sellers as Páginas Amarelas. Nossas crianças deixarão os gibis de lado, fascinadas pelos Classificados.
Multiplica-se. O resultado é produto. Suas fezes servem de adubo, seus cabelos poderão render uma volumosa peruca e o sêmen que você externa é o menu do banco de esperma. Cueca usada, toalha suada, foto rabiscada... Tudo tem valor no Mercado-Mundo.
Vende-se a fé, o sonho, prazer, fórmulas, segurança, beleza... Está tudo aí padronizado, abstrato, inato, impalpável. Vende-se sem ter posse, sem saber de onde vem: a alma, a Amazônia. Made in sabe-se lá... É o fenômeno da subjetivação da produção.
Vende-se a imagem, o status, e prolifera-se. Somos placa itinerante. Estampando... Tapados... Não remunerados... O sorriso jovial do comercial, a marca dos pés à cabeça, ego inflado, coisa de pele, gado marcado, vendendo saúde. Vende-se a morte em maços para as massas, engarrafando-os, engarrafadas.
E nós, compramos vendo ou vendados? E os sofismas, e os sofistas, e nós enganados? Eles colocam à venda, nós colocamos a venda. O eterno "gato por lebre". Não perca! - Pague dois e leve três! - Um é cinco, três é dez! Liquidação de nós mesmos.
Vendo a mim mesmo para desvendar o que há aqui dentro. Vendo a mim mesmo para ocultar o que estaria vendo. Emitir ou omitir a imagem? No espelho me espalho. Atolo-me em questionamentos. Retalho sou tolo, espantalho... Tento afugentar os corvos. E a quem me arremate, peço piedade, que não me mate, que me conserve sem corantes e agrotóxicos...
Leilão. Visão. Escuridão.
Só não se vendem os conselhos, mas os venderiam se fossem bons.


(Alan Salgueiro)

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